terça-feira, 5 de março de 2013

Os pilares da descrença - Maquiavel, o inventor da nova moralidade


Assim como há os pilares da fé cristã, os santos, assim há os indivíduos que se tornaram os pilares da descrença. Peter Kreeft discute seis pensadores modernos com enormes impactos na vida cotidiana, e com grande ameaça à mente cristã:


  • Maquiavel - inventor da "nova moralidade"
  • Kant - subjetivizador da Verdade
  • Nietzsche - autoproclamado "Anti-Cristo"
  • Freud - fundador da "revolução sexual"
  • Marx - falso Moisés para as massas, e
  • Sartre - apóstolo do absurdo.


Precisamos falar sobre "inimigos" da fá porque a vida de fé é uma guerra real. Assim falam todos os profetas, apóstolos, mártires e Nosso Senhor em pessoa.

Mesmo assim, nós tentamos evitar falar sobre inimigos. Por quê?
Parcialmente por causa do nosso medo de confundir inimigos espirituais com materiais; de odiar o pecador ao invés do pecado; de esquecer que "nossa batalha não é contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potências, contra os regradores dessa escuridão presente, contra os espíritos maus que estão nos céus." (Ef 6:12)
Mas, esse medo hoje é mais infundado do que nunca. Nenhuma era tem sido mais suspeita de militarismo, mais aterrorizada com os horrores da guerra física, do que a nossa. E nenhuma época tem sido mais afeita a confundir o pecado com o pecador, não odiando o pecador juntamente com o pecado, mas amando o pecado junto com o pecador. Nós frequentemente usamos "compaixão" como equivalente para o relativismo moral.
Nós também somos amenos. Não gostamos de lutar porque lutar significa sofrimento e sacrifício. Guerra pode não ser exatamente o inferno, mas é muito desconfortável. E, de qualquer forma, nós não estamos certos de que há algo por que valha a pena lutar. Talvez nos falte coragem porque nos falta uma razão para a coragem.
É assim que pensamos como modernos, mas não como católicos. Como católicos nós sabemos que a vida é uma guerra espiritual e que há inimigos espirituais. Uma vez que admitimos isso, o próximo passo segue inevitavelmente. É essencial, na batalha, conhecer seu inimigo. De outra forma, seus espiões passarão despercebidos. Então esta série é devotada a conhecer nossos inimigos espirituais na luta pelo coração moderno. Discutiremos seis pensadores modernos que tiveram um enorme impacto no nosso cotidiano. Eles têm causado enorme dano à mente cristã.
Seus nomes: Maquiavel, o inventor da "nova moralidade"; Kant, o subjetivizador da Verdade; Nietzsche, o auto-proclamado "Anti-Cristo"; Freud, o fundador da "revolução sexual"; Marx, o falso Moisés para as massas; e Sartre, o apóstolo do absurdo.
Nicolau Maquiavel (1496-1527) foi o fundador da moderna filosofia política e social, e raramente na história do pensamento houve uma revolução tão grande. Maquiavel sabia o quão radical ele era. Ele comparou seu trabalho ao de Colombo como o descobridor de um novo mundo, e ao de Moisés como o líder de um novo povo que iria deixar a escravidão das ideias morais em direção a uma nova terra prometida de poder e pragmatismo.
A revolução de Maquiavel pode ser sumarizada em seis pontos.
Para todos os pensadores sociais anteriores, o objetivo da vida política era a virtude. Uma boa sociedade era concebida como um a em que as pessoas eram boas. Não havia "duas medidas" entre a bondade individual e social - até Maquiavel. Com ele, a política se tornou não mais a arte do bom, mas a arte do possível. Sua influência nesse ponto foi enorme. Todos os maiores filósofos políticos (Hobbes, Locke, Rousseau, Mill, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, Dewey) subsequentemente rejeitaram o objetivo da virtude, desde que Maquiavel diminuiu a medida e quase todo mundo começou a saudar a nova bandeira hasteada.
O argumento de Maquiavel era que a moral tradicional era como as estrelas; bela, mas muito distante para produzir luz suficiente para nossa superfície terrestre. Ao invés delas, nós precisamos de lanternas feitas pelos homens; em outras palavras, metas atingíveis. Nós precisamos de nossos referenciais na terra, não nos céus; no que os homens e as sociedades fazem realmente, não no que eles deveriam fazer.
A essência da revolução de Maquiavel era julgar o ideal pelo real, ao invés do real pelo ideal. Um ideal é bom, para ele, somente se for prático; assim, Maquiavel é o pai do pragmatismo. Não somente os "fins justificam os meios" -- qualquer meio que funcione -- mas os meios mesmo justificam o fim, no sentido de que qualquer fim vale a pena desde que existam meios práticos para atingi-lo. Em outras palavras, o novo sumo bem, ou maior bem é o sucesso. (Maquiavel soa não só como o primeiro pragmatista, mas como o primeiro pragmatista americano!)
Maquiavel não só rebaixou os referenciais morais, ele os aboliu. Mais do que um pragmatista, ele era um anti-moralista. A única relevância que ele via na moralidade para o sucesso era permanecer no seu caminho. Ele pensava que era necessário para um príncipe bem sucedido "aprender como não ser bom" (O Príncipe, cap. 15), como quebrar promessas, mentir, blefar e roubar (cap. 18).
Por causa de tais visões vergonhosas, alguns dos contemporâneos de Maquiavel viam em "O Príncipe" um livro literalmente inspirado pelo demônio. Mas os acadêmicos atuais usualmente o veem como resultado da ciência. Eles defendem Maquiavel dizendo que ele não negava a moralidade, mas simplesmente escreveu um livro sobre outro assunto, sobre o que é, ao invés do que deveria ser. Eles até o exaltam por não ter hipocrisia, implicando em que moralismo é igual a hipocrisia.
Essa é a comum, moderna confusão sobre hipocrisia como não praticar o que se prega. No sentido de que todos os homens são hipócritas a menos que parem de pregar. Matthew Arnold definiu hipocrisia com "o tributo que o vício paga para a virtude". Maquiavel foi o primeiro a recusar a pagar mesmo esse tributo. Ele deixou a hipocrisia não por elevar a prática ao nível da pregação, mas em rebaixar a pregação ao nível da prática, conformando o ideal ao real ao invés do real ao ideal.
De fato, ele realmente pregava: "Poppa, don´t preach!" - como na canção de rock recente. Você poderia imaginar Moisés dizendo: "Poppa, don´t preach!" para Deus no Monte Sinai? Ou Maria para o anjo? Ou Cristo no Getsêmani,  ao invés de "Pai, não a minha vontade, mais a sua seja feita"? Se você pode, você está imaginando o inferno, porque nossa esperança do céu depende daquelas pessoas dizendo: "Poppa, do preach!"
Na verdade nós redefinimos "hipocrisia". Hipocrisia não é a falha em praticar o que você prega, mas a falha em acreditar. Hipocrisia é propaganda.
Por essa definição Maquiavel foi quase o inventor da hipocrisia, porque foi quase o inventor da propaganda. Ele foi o primeiro filósofo que esperava converter o mundo inteiro através da propaganda.
Ele via a vida como uma luta espiritual contra a Igreja e sua propaganda. Ele acreditava que toda religião era uma peça de propaganda cuja influência durava entre 1.666 e 3.000 anos. E ele pensou que o cristianismo iria terminar bem antes do mundo acabar, provavelmente em torno do ano 1.666, destruído ou por invasões bárbaras vindas do Leste (que hoje é a Rússia) ou por um amansamento e enfraquecimento do Ocidente Cristão, ou por ambos. Seus aliados eram todos mornos cristãos que amavam mais sua terra natal do que o céu, César mais do que a Cristo, sucesso social mais do que virtude. Para eles endereçou sua propaganda. Explicitar totalmente seus objetivos não seria factível, e confessar seu ateísmo, fatal, então ele foi cuidadoso em evitar heresia explícita. Mas foi dele a destruição da "farsa Católica" e seus meios foram propaganda secular agressiva. (Alguém poderia dizer, talvez de forma impertinente, que ele foi o pai da mídia moderna.)
Ele descobriu que eram necessárias duas ferramentas para comandar o comportamento dos homens e então a história da humanidade: a pena e a espada, propaganda e armas. Então, ambos, mente e corpo poderiam ser dominados, e dominação era o seu objetivo. Ele via toda a vida humada e a história como determinadas por duas forças: virtu (força) e fortuna (sorte). A fórmula simples para o sucesso era a maximização da virtu e a minimização da fortuna. Ele termina "O Príncipe" com esta chocante imagem: "Fortuna é uma mulher, e para submetê-la é necessário bater e coagir." (cap. 25) Em outras palavras, o segredo do sucesso é um tipo de violência.
Para o objetivo do controle, armas são necessárias, assim como propaganda, e Maquiavel é um impostor. Ele acreditava que "você não pode ter boas leis sem boas armas, e onde há boas armas, boas leis inevitavelmente surgem."(cap. 12). Em outras palavras, justiça "vem de um barril de pólvora," para adaptar um frase de Mao Tse-tung. Maquiavel acreditava que "todos os profetas armados foram conquistadores e todos os desarmados se tornaram escravos" (cap. 6). Moisés, portanto, deveria ter usado armas, as quais a Bíblia se esqueceu de contar; Jesus, o supremo profeta desarmado, veio a ser escravo; Ele foi crucificado e não ressuscitou. Mas Sua mensagem conquistou o mundo através da propaganda, por armas intelectuais. Era essa a guerra que Maquiavel estabeleceu para lutar.
O relativismo social também emergiu da filosofia de Maquiavel. Ele reconhecia não haver nenhuma lei acima daquelas das diferentes sociedades e, desde que essas leis e sociedades foram originadas pela força ao invés da moralidade, a consequência é que a moralidade é baseada na imoralidade. O argumento vem dessa forma: a moralidade somente pode vir da sociedade, desde que não há Deus e nenhuma lei natural universal dada por Deus. Mas, toda sociedade foi originada de alguma revolução ou violência. A sociedade romana, por exemplo, a origem do direito romano em si, foi originada do assassinato de Reno por seu irmão Rômulo. Toda a história humana começa com o assassinato de Abel por Caim. Assim, a fundação da lei é a falta de lei. A fundação da moralidade é a imoralidade.
O argumento somente é tão forte como sua primeira premissa, o que -- como todo relativismo social, incluindo aquele que domina a mente dos escritores e leitores de quase todos os livros-textos de sociologia hoje -- é realmente ateísmo implícito.
Maquiavel criticou o cristianismo e as ideias clássicas de caridade por um argumento similar. Ele perguntou: Como você consegue os bens que você doa? Pela competição egoísta. Todos os bens são adquiridos a custa de outros. Se minha fatia do bolo é tão maior, alguém deve estar com muito menos. Então o não-egoísmo depende do egoísmo.
O argumento pressupõe materialismo, pois os bens espirituais não diminuem quando divididos ou dados a alguém, e não privam ninguém quando eu os adquiro. Quanto mais dinheiro eu consigo, menos você tem e quanto mais eu dou, menos eu tenho. Mas, amor, verdade, amizade e sabedoria crescem, ao invés de diminuir, quando compartilhados. O materialista simplesmente não vê isso, ou não se importa.
Maquiavel acreditava que todos nós somos inerentemente egoístas. Para ele não havia tal coisa como uma consciência inata ou um instinto moral. Então, a única maneira de fazer com que os homens agissem moralmente era através da força, de fato força totalitária, para compeli-los a agir contrários à sua natureza. As origens do moderno totalitarianismo também remontam a Maquiavel.
Se um homem é inerentemente egoísta, então somente o medo e o amor podem efetivamente movê-lo. Então Maquiavel escreveu: "É muito melhor ser temido do que amado ... [pois] os homens se preocupam menos em prejudicar alguém que os ama do que aquele que temem. O laço do amor é um que os homens, criaturas fracas que são, rompem quando há vantagem para eles em fazê-lo, mas o medo é fortalecido por uma esperada punição que é sempre efetiva." (cap. 17)
O mais impressionante sobre essa brutal filosofia é que ela ganhou a mente moderna, somente através de diluições ou omissões dos seus aspectos mais sombrios. Os sucessores de Maquiavel suavizaram o seu ataque à moralidade e à religião, mas eles não retornaram à ideia de um Deus pessoal ou objetivo e uma moralidade absoluta como fundamento da sociedade. A diminuição de Maquiavel aparecia como uma ampliação. Ele simplesmente decepou a estória principal da criação da vida; nenhum Deus, somente homem; nenhuma alma, somente corpo; nenhum espírito, somente matéria; nenhum deveria, somente é. Ainda que essa construção aparecesse (através da propaganda) como uma Torre de Babel, esse confinamento aparecia como a liberação dos "confinamentos" da moralidade tradicional, como tirar seu cinto do buraco.
Satã não é um conto de fadas; é um brilhante estrategista e psicólogo e é completamente real. A linha de argumento de Maquiavel é uma das mentiras mais poderosas de Satã em nossos dias. Sempre que somos tentados, ele está usando essa mentira para que o mal pareça bom e desejável; para fazer a escravidão parecer liberdade e "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" aparecer como escravidão. O "Pai da Mentira" adora nos contar não pequenas mentiras, mas a Grande Mentira, colocar a verdade de cabeça para baixo. E ele continuará -- a menos que retiremos a cobertura dos espiões do Inimigo.
Peter Kreeft



3 comentários:

  1. Caríssimo,

    Tudo bem? Ótimo saber que mais alguém se empenhou em fazer traduções do Kreeft. Poucos meses atrás quase me aventurei em terminar a série de textos sobre os "Pilares da Descrença", mas o tempo e as circunstâncias não me permitiram e, por fim, tive de largar de mão.
    Uma das minhas traduções está disponível no "scribd", caso tenha interesse. Fiz por ocasião do curso do Padre Paulo Ricardo sobre "Marxismo Cultural" no intuito de ajudar alguns amigos. Espero que lhe seja útil, ou mesmo para o seu blog.

    ResponderExcluir
  2. boa tarde,
    veja vários textos traduzidos,
    http://www.quadrante.com.br/artigos_lista.asp?pagina=3&cat=9

    ResponderExcluir