quarta-feira, 20 de março de 2013

Os pilares da descrença - Kant, o subjetivizador da Verdade

Tradução de: http://www.peterkreeft.com/topics-more/pillars_kant.htm
Poucos filósofos na história foram tão ilegíveis e secos como Immanuel Kant. Entretanto, poucos tiveram um impacto tão devastador no pensamento humano.
Dizem que o devotado servo de Kant, Lampe, leu fielmente cada coisa que seu mestre publicou, mas quando Kant publicou seu mais importante trabalho, "A Crítica da Razão Pura", Lampa o começou mas não terminou porque, ele disse, se ele devia fazê-lo, deveria ser em um hospício. Muitos estudantes desde então têm ecoado os seus sentimentos. 
Mesmo assim, esse professor abstrato, que escreve em estilo abstrato sobre questões abstratas, é, acredito eu, a fonte primária da ideia que hoje impera na fé (e consequentemente nas almas) mais do que qualquer outra; a ideia de que a verdade é subjetiva.
Os simples cidadãos de sua nativa Konigsberg, Alemanha, onde ele viveu e escreveu na segunda metade do século 18, entender isso melhor do que os acadêmicos profissionais, pois o apelidaram de "O Destruidor" e chamaram seus cachorros por seu nome.
Ele era um homem de bom temperamento, doce e piedoso, tão pontual que seus vizinhos acertavam seus relógios por sua caminhada diária. A intenção básica de sua filosofia era nobre: restaurar a dignidade humana por meio de um mundo cético que valorizasse a ciência.
Essa intenção ficou clara por uma simples anedota. Kant estava assistindo uma aula de um astrônomo materialista, no tópico sobre o lugar no homem no universo. O astrônomo concluiu sua aula com: "Então vocês veem que, astronomicamente falando, o homem é completamente insignificante." Kant respondeu: "Professor, o senhor esqueceu a coisa mais importante, o homem é o astrônomo."
Kant, mais do que qualquer outro pensador, deu ímpeto à troca tipicamente moderna do objetivo pelo subjetivo. Isso pode soar bem, até que percebemos que isso significava para ele a redefinição da verdade em si mesma como subjetiva. E as consequências dessa ideia foram catastróficas.
Sempre que entramos em uma conversa sobre nossa fé com descrentes, sabemos pela experiência que o obstáculo mais comum à fé hoje não é nenhuma dificuldade intelectual honesta, como o problema do mal ou o dogma da trindade, mas a assunção de que a religião não é capaz de possivelmente explicar os fatos e a verdade objetiva em geral; que qualquer tentativa de convencer outra pessoa de que sua fé é verdadeira -- objetivamente verdadeira, verdadeira para todos -- é uma arrogância impensável.
O negócio da religião, de acordo com essa mentalidade, é prática e não teoria; valores, não fatos; algo subjetivo e privado, não objetivo e público. O dogma é um "extra", e mau porque incentiva o dogmatismo. Religião, sucintamente, é equivalente a ética. E desde que a ética cristã é muito similar à ética da maioria das outras grandes religiões, não importa se você é um cristão ou não; o que importa é se você é uma "boa pessoa". (As pessoas que acreditam nisso também acreditam normalmente que todos, exceto Adolf Hitler e Charles Manson são "boas pessoas".)
Kant é largamente responsável por esta via de pensamento. Ele ajudou a sepultar a síntese medieval da fé com a razão. Ele descreveu sua filosofia como "limpar as pretensões da razão em abrir espaço para a fé" -- como se a fé e a razão fossem inimigas e não aliadas. Em Kant, o divórcio de Lutero entre a fé e a razão se completou.
Kant pensava que a religião nunca poderia ser um tópico da razão, evidência ou argumento, ou ainda do conhecimento, mas de sentimentos, motivações e atitudes. Essa assunção influenciou profundamente a mente dos educadores mais religiosos (ex: escritores de catecismos e departamentos de teologia) hoje, que afastaram sua atenção dos simples "esqueletos" da fé, os fatos objetivos narrados na Escritura e sumarizados no Credo dos Apóstolos. Eles divorciaram a fé da razão e a casaram com psicologia popular, porque adotaram a filosofia de Kant. 
"Duas coisas me enchem de assombro," Kant confessou: "o céu estrelado lá em cima e a lei moral abaixo dele." O que assombra um homem preenche seu coração e direciona o seu pensamento. Note que Kant se assombra sobre duas coisas: não Deus, não Cristo, não Criação, Encarnação, Ressurreição e Julgamento, mas "o céu estrelado lá encima e a lei moral aqui dentro". "O céu estrelado lá em cima" é o universo físico como conhecido pela ciência moderna. Kant relega tudo o mais para a subjetividade. A lei moral não é externa, mas interna, não é objetiva, mas subjetiva, não é uma Lei Natural de certos e errados objetivos que vêm de Deus, mas uma lei feita pelo homem, pela qual nós decidimos nos obrigar. (Mas se nos obrigamos a nós mesmos, estamos realmente obrigados?) A moralidade é uma questão de intenção subjetiva somente. Não tem nenhum conteúdo, exceto pela Regra de Ouro (o "imperativo categórico" de Kant).
Se a lei moral veio de Deus e não do homem, Kant argumenta, então o homem não seria livre no sentido de ser autônomo. Como isso é verdade, Kant então procede argumentando que o homem tem que ser autônomo, então a lei moral não vem de Deus, mas do homem. A Igreja argumenta a partir da mesma premissa de que a lei moral vem, de fato, de Deus, então o homem não é autônomo. Ele é livre para escolher obedecer ou não a lei moral, mas não é livre para criar a lei por si mesmo.
Apesar de Kant se considerar um cristão, ele explicitamente negava que poderia conhecer que realmente existe: (1) Deus, (2) livre-arbítrio, e (3) imoralidade. Ele disse que devemos viver como se essas ideias fossem verdadeiras porque se acreditarmos nelas nós iremos tomar a moralidade seriamente, senão não iríamos. Essa é a justificação da fé por razões puramente práticas que são um terrível erro. Kant acreditava em Deus não porque ele é verdade, mas porque ele é útil. Porque não acreditar em Papai Noel então? Se eu fosse Deus, eu iria favorecer um ateu honesto a um teísta desonesto, e Kant é para mim um teísta desonesto, porque há somente uma razão honesta para acreditar em algo: porque é verdade.
Aqueles que tentar vender a fé cristã no sentido kantiano, como um "sistema de valores" ao invés da verdade, têm falhado por gerações. Com tantos outros "sistemas de valores" competindo no mercado, porque alguém preferiria a variação cristã a outras mais simples, com menos bagagem teológica, mais fáceis, com menos demandas morais inconvenientes?
Kant abandonou a batalha, efetivamente, recuando do campo de batalha dos fatos. Ele acreditava no grande mito do século 18, o "Iluminismo" (nome irônico!): que a ciência Newtoniana iria ficar e que o cristianismo, para sobreviver, deveria encontrar um novo lugar na nova mentalidade desenhada pela nova ciência. O único lugar restante era a subjetividade.
Isso significava ignorar ou interpretar como mito as afirmações sobrenaturais e milagrosas da cristandade tradicional. A estratégia de Kant era essencialmente a mesma da de Rudolf Bultmann, o pai da "desmistificação" e o homem que pode ter sido responsável pela perda da fé de mais estudantes nas escolas católicas do que qualquer outro. Muitos professores de teologia seguem suas teorias de criticismo que reduzem as afirmações bíblicas de testemunhos de milagres a meros "mitos", "valores" e "interpretações piedosas".
Bultmann disse isso sobre o suposto conflito entre a fé e a ciência: "O mundo descrito pela ciência está aí para ficar  e irá reivindicar seus direitos contra qualquer teologia, ainda que grandiosa, que se conflite com ele". Ironicamente, a mesma "descrição científica do mundo" da física Newtoniana que Kant e Bultmann aceitavam como absoluta e imutável, hoje em dia é quase universalmente rejeitada pelos próprios cientistas!
A questão básica de Kant era: Como podemos saber a verdade? Cedo na vida nós aceitamos a resposta do racionalismo, de que sabemos a verdade através do intelecto, não dos sentidos, e que o intelecto possui em si "ideias inatas". Então nós lemos o empirista David Hume, que, dizia Kant, "me acordou de meu sonho dogmático". Como outros empiristas, Hume acreditava que nós poderíamos conhecer a verdade somente através dos sentidos e que não havia "ideias inatas". Mas as premissas de Huma o levaram à conclusão do ceticismo, a negação de que nós podemos conhecer realmente a verdade com alguma certeza. Kant via ambos, o "dogmatismo" do racionalismo e o ceticismo do empirismo, como inaceitáveis, e vislumbrou uma terceira via.
Havia tal terceira teoria disponível, desde Aristóteles. Era a filosofia do senso comum, o realismo. De acordo com o realismo, nós podemos conhecer a verdade através de ambos, o intelecto e os sentidos, somente se eles funcionassem apropriadamente e conjuntamente, como as duas lâminas de uma tesoura. Ao invés de retornar ao tradicional realismo, Kant inventou uma totalmente nova teoria do conhecimento, usualmente chamada idealismo. Ele a chamou de sua "revolução copernicana na filosofia". O termo mais simples para ela é subjetivismo. Ela equivale a redefinir a verdade em si como subjetiva, não objetiva.
Todos os filósofos anteriores tinham assumido que a verdade era objetiva. Isso é simplesmente o que o senso comum toma por "verdade": saber o que realmente é, conformando a mente à realidade objetiva. Alguns filósofos, (os racionalistas) pensavam que poderíamos atingir esse objetivo somente através da razão. Os empiristas recentes (como Locke) pensavam que poderíamos fazê-lo através dos sentidos. O último empirista cético Hume pensava que não poderíamos atingi-la totalmente, sem nenhuma incerteza. Kant negou a assunção comum de todas as três filosofias concorrentes, que deveríamos nominalmente alcançá-la, que a verdade significava conformidade à realidade objetiva. A "revolução copernicana" de Kant redefiniu a verdade em si como realidade conforme às ideias. "Até agora foi assumido que todo o nosso conhecimento deve estar conformado aos objetos... maior progresso poderá ser feito se assumirmos a hipótese contrária de que os objetos do pensamento devem ser conformados ao nosso conhecimento."
Kant afirmava que todo o nosso conhecimento é subjetivo. Bem, seria esse conhecimento subjetivo? Se sim, então o conhecimento desse fato também é subjetivo, etc, e estamos reduzidos a um infinito salão de espelhos. A filosofia de Kant é uma perfeita filosofia para o inferno. Talvez a maior parte das pessoas acredite que não há realmente o inferno, que isso existe só na sua cabeça. E talvez seja, talvez isso seja o inferno.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O que esperar do Papa Francisco?

Nos últimos dias fiquei atordoado procurando referências sobre o novo Papa. O cardeal Schönborn declarou que o Papa dará "fortes sinais" nos próximos dias. Já tem nos surpreendido desde a escolha do nome, que nos remete, sem dúvida, a Francisco de Assis, o poverello, representante-mor da humildade que constrange, a simplicidade e a doçura na voz que desarma as pessoas, até os que não creem. Contra a caridade, não há argumentos. 

No meio de todo esse burburinho sobre mudanças na Igreja, poderíamos nos perguntar, afinal, a Igreja muda? Graças a Deus muda, se não mudasse, não poderia melhorar o que está ruim. Os tempos mudam. Alguns problemas do nosso tempo não são os mesmos que a Igreja enfrentou no passado. Por outro lado e ao mesmo tempo, a Igreja não muda. Os homens são essencialmente os mesmos, os pecados, os mesmos. A solução para o pecado é sempre a mesma, a salvação é sempre a mesma, a verdade é sempre a mesma, somos seres decaídos que precisamos de Deus para nos salvar, do arrependimento, do perdão, da conversão de vida. Nesse aparente paradoxo, vemos que coexistem no mesmo organismo algo imutável - a doutrina de Cristo -, e as realidades administrativas e temporais que podem - e devem - ser constantemente reavaliadas à luz do mesmo Cristo. Cristo é nossa âncora, sem Ele somos nau à deriva. É nossa rocha, nossa pedra angular. Portanto, esqueçam qualquer mudança doutrinária, não percam seu tempo. O Papa não pode alterar a moral e a fé, nem que queira. Nenhum deles o fez, nem os piores.  Mesmo que Francisco não venha a ser um bom papa, devemos ter fé e perseverar, pois só Deus sabe tirar o bem do mal.

Infelizmente há, hoje, uma "igreja" muda, tíbia, envergonhada, tímida, que não fala mais de Cristo, do pecado, da conversão. Que é só uma ONG, que não assume a cruz de Cristo, que não quer edificar a Igreja e nem confessar a glória do Cristo Crucificado. Tem vergonha de assumir-se realmente cristã. Tem vergonha do seu passado e de sua história. Tem medo de ser velha e retrógrada e se perde nos ventos da modernidade, sem referências. Quer agradar a todos e abandona o Evangelho em suas partes mais duras. Que não proclama a plenos pulmões sua fé, pois na prática não acredita muito. Essa é outra, não é mais a Igreja Católica, apesar de parecida com ela à primeira vista. É uma igreja em ruínas. Cada um deve ser humilde para reconhecer em qual delas está.

Mas a Igreja verdadeira, esta é indestrutível. Devemos ter esperança, pois de outra vez o próprio Cristo pediu: "Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja." O pobrezinho de Assis levou a caridade às últimas consequências. Ele reconstruiu, não revolucionou. Revolução implica colocar coisas de cabeça para baixo, destruir uma realidade para colocar outra no lugar, essa é a mentalidade das revoluções do século XX. Francisco reconstruiu algo que estava em ruínas, pois tinha em mente algo anterior que era bom, mas que foi corrompido. Essa é a história da Igreja, a história do homem. O verdadeiro progresso é sempre um retorno à caridade, simplicidade e pureza que um dia perdemos pelo pecado. Na história do mundo e na história de cada um. É um olhar para trás para seguir em frente sabendo onde vai.

Assim, reconstruir a Igreja é reconstruir a nós mesmos. Quando perguntaram a Madre Teresa o que deveria ser mudado na Igreja, ela respondeu: "Eu" - e o fez. É reconstruir a chama original de fé e esperança que ainda arde no peito de todos os batizados. É renunciar ao pecado, ao demônio, buscar a santidade da maneira radical e apaixonada do pequeno grande santo. Francisco não fará nada sem você e eu. A verdadeira reconstrução da Igreja começa no meu coração. Essa transformação deve ser tal que transborde  em todos os aspectos de nossas vidas e nos vejamos, finalmente, vivendo a plena caridade dos filhos amados de Deus. Sugiro a todos imitarmos São Francisco nessa reconstrução tão necessária da nossa fé em Jesus Cristo, aproveitando o tempo de conversão especial da Quaresma, que já está terminando. Já fez seu exame de consciência? Já ajudou alguém? Já se esforçou para ser melhor?

Peçamos a Deus, pela intercessão da Virgem Maria, que a Igreja seja reconstruída a cada gesto, a começar por mim mesmo.

terça-feira, 5 de março de 2013

Os pilares da descrença - Maquiavel, o inventor da nova moralidade


Assim como há os pilares da fé cristã, os santos, assim há os indivíduos que se tornaram os pilares da descrença. Peter Kreeft discute seis pensadores modernos com enormes impactos na vida cotidiana, e com grande ameaça à mente cristã:


  • Maquiavel - inventor da "nova moralidade"
  • Kant - subjetivizador da Verdade
  • Nietzsche - autoproclamado "Anti-Cristo"
  • Freud - fundador da "revolução sexual"
  • Marx - falso Moisés para as massas, e
  • Sartre - apóstolo do absurdo.


Precisamos falar sobre "inimigos" da fá porque a vida de fé é uma guerra real. Assim falam todos os profetas, apóstolos, mártires e Nosso Senhor em pessoa.

Mesmo assim, nós tentamos evitar falar sobre inimigos. Por quê?
Parcialmente por causa do nosso medo de confundir inimigos espirituais com materiais; de odiar o pecador ao invés do pecado; de esquecer que "nossa batalha não é contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potências, contra os regradores dessa escuridão presente, contra os espíritos maus que estão nos céus." (Ef 6:12)
Mas, esse medo hoje é mais infundado do que nunca. Nenhuma era tem sido mais suspeita de militarismo, mais aterrorizada com os horrores da guerra física, do que a nossa. E nenhuma época tem sido mais afeita a confundir o pecado com o pecador, não odiando o pecador juntamente com o pecado, mas amando o pecado junto com o pecador. Nós frequentemente usamos "compaixão" como equivalente para o relativismo moral.
Nós também somos amenos. Não gostamos de lutar porque lutar significa sofrimento e sacrifício. Guerra pode não ser exatamente o inferno, mas é muito desconfortável. E, de qualquer forma, nós não estamos certos de que há algo por que valha a pena lutar. Talvez nos falte coragem porque nos falta uma razão para a coragem.
É assim que pensamos como modernos, mas não como católicos. Como católicos nós sabemos que a vida é uma guerra espiritual e que há inimigos espirituais. Uma vez que admitimos isso, o próximo passo segue inevitavelmente. É essencial, na batalha, conhecer seu inimigo. De outra forma, seus espiões passarão despercebidos. Então esta série é devotada a conhecer nossos inimigos espirituais na luta pelo coração moderno. Discutiremos seis pensadores modernos que tiveram um enorme impacto no nosso cotidiano. Eles têm causado enorme dano à mente cristã.
Seus nomes: Maquiavel, o inventor da "nova moralidade"; Kant, o subjetivizador da Verdade; Nietzsche, o auto-proclamado "Anti-Cristo"; Freud, o fundador da "revolução sexual"; Marx, o falso Moisés para as massas; e Sartre, o apóstolo do absurdo.
Nicolau Maquiavel (1496-1527) foi o fundador da moderna filosofia política e social, e raramente na história do pensamento houve uma revolução tão grande. Maquiavel sabia o quão radical ele era. Ele comparou seu trabalho ao de Colombo como o descobridor de um novo mundo, e ao de Moisés como o líder de um novo povo que iria deixar a escravidão das ideias morais em direção a uma nova terra prometida de poder e pragmatismo.
A revolução de Maquiavel pode ser sumarizada em seis pontos.
Para todos os pensadores sociais anteriores, o objetivo da vida política era a virtude. Uma boa sociedade era concebida como um a em que as pessoas eram boas. Não havia "duas medidas" entre a bondade individual e social - até Maquiavel. Com ele, a política se tornou não mais a arte do bom, mas a arte do possível. Sua influência nesse ponto foi enorme. Todos os maiores filósofos políticos (Hobbes, Locke, Rousseau, Mill, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, Dewey) subsequentemente rejeitaram o objetivo da virtude, desde que Maquiavel diminuiu a medida e quase todo mundo começou a saudar a nova bandeira hasteada.
O argumento de Maquiavel era que a moral tradicional era como as estrelas; bela, mas muito distante para produzir luz suficiente para nossa superfície terrestre. Ao invés delas, nós precisamos de lanternas feitas pelos homens; em outras palavras, metas atingíveis. Nós precisamos de nossos referenciais na terra, não nos céus; no que os homens e as sociedades fazem realmente, não no que eles deveriam fazer.
A essência da revolução de Maquiavel era julgar o ideal pelo real, ao invés do real pelo ideal. Um ideal é bom, para ele, somente se for prático; assim, Maquiavel é o pai do pragmatismo. Não somente os "fins justificam os meios" -- qualquer meio que funcione -- mas os meios mesmo justificam o fim, no sentido de que qualquer fim vale a pena desde que existam meios práticos para atingi-lo. Em outras palavras, o novo sumo bem, ou maior bem é o sucesso. (Maquiavel soa não só como o primeiro pragmatista, mas como o primeiro pragmatista americano!)
Maquiavel não só rebaixou os referenciais morais, ele os aboliu. Mais do que um pragmatista, ele era um anti-moralista. A única relevância que ele via na moralidade para o sucesso era permanecer no seu caminho. Ele pensava que era necessário para um príncipe bem sucedido "aprender como não ser bom" (O Príncipe, cap. 15), como quebrar promessas, mentir, blefar e roubar (cap. 18).
Por causa de tais visões vergonhosas, alguns dos contemporâneos de Maquiavel viam em "O Príncipe" um livro literalmente inspirado pelo demônio. Mas os acadêmicos atuais usualmente o veem como resultado da ciência. Eles defendem Maquiavel dizendo que ele não negava a moralidade, mas simplesmente escreveu um livro sobre outro assunto, sobre o que é, ao invés do que deveria ser. Eles até o exaltam por não ter hipocrisia, implicando em que moralismo é igual a hipocrisia.
Essa é a comum, moderna confusão sobre hipocrisia como não praticar o que se prega. No sentido de que todos os homens são hipócritas a menos que parem de pregar. Matthew Arnold definiu hipocrisia com "o tributo que o vício paga para a virtude". Maquiavel foi o primeiro a recusar a pagar mesmo esse tributo. Ele deixou a hipocrisia não por elevar a prática ao nível da pregação, mas em rebaixar a pregação ao nível da prática, conformando o ideal ao real ao invés do real ao ideal.
De fato, ele realmente pregava: "Poppa, don´t preach!" - como na canção de rock recente. Você poderia imaginar Moisés dizendo: "Poppa, don´t preach!" para Deus no Monte Sinai? Ou Maria para o anjo? Ou Cristo no Getsêmani,  ao invés de "Pai, não a minha vontade, mais a sua seja feita"? Se você pode, você está imaginando o inferno, porque nossa esperança do céu depende daquelas pessoas dizendo: "Poppa, do preach!"
Na verdade nós redefinimos "hipocrisia". Hipocrisia não é a falha em praticar o que você prega, mas a falha em acreditar. Hipocrisia é propaganda.
Por essa definição Maquiavel foi quase o inventor da hipocrisia, porque foi quase o inventor da propaganda. Ele foi o primeiro filósofo que esperava converter o mundo inteiro através da propaganda.
Ele via a vida como uma luta espiritual contra a Igreja e sua propaganda. Ele acreditava que toda religião era uma peça de propaganda cuja influência durava entre 1.666 e 3.000 anos. E ele pensou que o cristianismo iria terminar bem antes do mundo acabar, provavelmente em torno do ano 1.666, destruído ou por invasões bárbaras vindas do Leste (que hoje é a Rússia) ou por um amansamento e enfraquecimento do Ocidente Cristão, ou por ambos. Seus aliados eram todos mornos cristãos que amavam mais sua terra natal do que o céu, César mais do que a Cristo, sucesso social mais do que virtude. Para eles endereçou sua propaganda. Explicitar totalmente seus objetivos não seria factível, e confessar seu ateísmo, fatal, então ele foi cuidadoso em evitar heresia explícita. Mas foi dele a destruição da "farsa Católica" e seus meios foram propaganda secular agressiva. (Alguém poderia dizer, talvez de forma impertinente, que ele foi o pai da mídia moderna.)
Ele descobriu que eram necessárias duas ferramentas para comandar o comportamento dos homens e então a história da humanidade: a pena e a espada, propaganda e armas. Então, ambos, mente e corpo poderiam ser dominados, e dominação era o seu objetivo. Ele via toda a vida humada e a história como determinadas por duas forças: virtu (força) e fortuna (sorte). A fórmula simples para o sucesso era a maximização da virtu e a minimização da fortuna. Ele termina "O Príncipe" com esta chocante imagem: "Fortuna é uma mulher, e para submetê-la é necessário bater e coagir." (cap. 25) Em outras palavras, o segredo do sucesso é um tipo de violência.
Para o objetivo do controle, armas são necessárias, assim como propaganda, e Maquiavel é um impostor. Ele acreditava que "você não pode ter boas leis sem boas armas, e onde há boas armas, boas leis inevitavelmente surgem."(cap. 12). Em outras palavras, justiça "vem de um barril de pólvora," para adaptar um frase de Mao Tse-tung. Maquiavel acreditava que "todos os profetas armados foram conquistadores e todos os desarmados se tornaram escravos" (cap. 6). Moisés, portanto, deveria ter usado armas, as quais a Bíblia se esqueceu de contar; Jesus, o supremo profeta desarmado, veio a ser escravo; Ele foi crucificado e não ressuscitou. Mas Sua mensagem conquistou o mundo através da propaganda, por armas intelectuais. Era essa a guerra que Maquiavel estabeleceu para lutar.
O relativismo social também emergiu da filosofia de Maquiavel. Ele reconhecia não haver nenhuma lei acima daquelas das diferentes sociedades e, desde que essas leis e sociedades foram originadas pela força ao invés da moralidade, a consequência é que a moralidade é baseada na imoralidade. O argumento vem dessa forma: a moralidade somente pode vir da sociedade, desde que não há Deus e nenhuma lei natural universal dada por Deus. Mas, toda sociedade foi originada de alguma revolução ou violência. A sociedade romana, por exemplo, a origem do direito romano em si, foi originada do assassinato de Reno por seu irmão Rômulo. Toda a história humana começa com o assassinato de Abel por Caim. Assim, a fundação da lei é a falta de lei. A fundação da moralidade é a imoralidade.
O argumento somente é tão forte como sua primeira premissa, o que -- como todo relativismo social, incluindo aquele que domina a mente dos escritores e leitores de quase todos os livros-textos de sociologia hoje -- é realmente ateísmo implícito.
Maquiavel criticou o cristianismo e as ideias clássicas de caridade por um argumento similar. Ele perguntou: Como você consegue os bens que você doa? Pela competição egoísta. Todos os bens são adquiridos a custa de outros. Se minha fatia do bolo é tão maior, alguém deve estar com muito menos. Então o não-egoísmo depende do egoísmo.
O argumento pressupõe materialismo, pois os bens espirituais não diminuem quando divididos ou dados a alguém, e não privam ninguém quando eu os adquiro. Quanto mais dinheiro eu consigo, menos você tem e quanto mais eu dou, menos eu tenho. Mas, amor, verdade, amizade e sabedoria crescem, ao invés de diminuir, quando compartilhados. O materialista simplesmente não vê isso, ou não se importa.
Maquiavel acreditava que todos nós somos inerentemente egoístas. Para ele não havia tal coisa como uma consciência inata ou um instinto moral. Então, a única maneira de fazer com que os homens agissem moralmente era através da força, de fato força totalitária, para compeli-los a agir contrários à sua natureza. As origens do moderno totalitarianismo também remontam a Maquiavel.
Se um homem é inerentemente egoísta, então somente o medo e o amor podem efetivamente movê-lo. Então Maquiavel escreveu: "É muito melhor ser temido do que amado ... [pois] os homens se preocupam menos em prejudicar alguém que os ama do que aquele que temem. O laço do amor é um que os homens, criaturas fracas que são, rompem quando há vantagem para eles em fazê-lo, mas o medo é fortalecido por uma esperada punição que é sempre efetiva." (cap. 17)
O mais impressionante sobre essa brutal filosofia é que ela ganhou a mente moderna, somente através de diluições ou omissões dos seus aspectos mais sombrios. Os sucessores de Maquiavel suavizaram o seu ataque à moralidade e à religião, mas eles não retornaram à ideia de um Deus pessoal ou objetivo e uma moralidade absoluta como fundamento da sociedade. A diminuição de Maquiavel aparecia como uma ampliação. Ele simplesmente decepou a estória principal da criação da vida; nenhum Deus, somente homem; nenhuma alma, somente corpo; nenhum espírito, somente matéria; nenhum deveria, somente é. Ainda que essa construção aparecesse (através da propaganda) como uma Torre de Babel, esse confinamento aparecia como a liberação dos "confinamentos" da moralidade tradicional, como tirar seu cinto do buraco.
Satã não é um conto de fadas; é um brilhante estrategista e psicólogo e é completamente real. A linha de argumento de Maquiavel é uma das mentiras mais poderosas de Satã em nossos dias. Sempre que somos tentados, ele está usando essa mentira para que o mal pareça bom e desejável; para fazer a escravidão parecer liberdade e "a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" aparecer como escravidão. O "Pai da Mentira" adora nos contar não pequenas mentiras, mas a Grande Mentira, colocar a verdade de cabeça para baixo. E ele continuará -- a menos que retiremos a cobertura dos espiões do Inimigo.
Peter Kreeft



sexta-feira, 1 de março de 2013

Casamento gay - maquiavélica destruição da família

Veja antes: Família - afetos e afetações

Agora que consideramos a natureza humana e temos pistas sobre algumas causas naturais de alguns comportamentos humanos -- como comentado em Ecce Homo -- podemos analisar as escolhas dos seres humanos, pois também é da nossa natureza poder fazer escolhas a partir do que sentimos. Talvez devemos analisar mais dois sentidos para palavra natureza. Um é relativo aos comportamentos que temos, que podem ter causas as mais diversas. Naturalmente temos vontade de comer, de dormir, de sorrir, de esganar alguém, de fazer sexo com alguém. Existem explicações naturais para pessoas que são canhotas, até para traços de personalidade, por exemplo introversão e extroversão. Mas, outro sentido tem a ver com a finalidade das coisas. A natureza do olho é ver, a natureza do pé é andar, a natureza do estômago digerir. Assim, quando o crente diz que algo vai "contra a natureza", baseado nos textos de São Paulo, o que São Paulo queria dizer é que usar os órgãos reprodutivos para outra coisa que não é a finalidade deles não é bom. O comportamento homossexual, portanto, pode ser considerado natural no primeiro sentido, dado que é uma coisa observada e até explicada de alguma forma, mas não no segundo sentido, quando parte de uma concepção de mundo em que as coisas têm um determinado propósito para existir. Não dá pra discordar quando alguém diz que homossexualidade é comportamento. Pode ter a causa que for, com explicação científica e tudo, mas é um comportamento, e como qualquer outro deve ser objeto de juízo moral, de conveniência para as próximas gerações. É isso que a humanidade sempre tem que fazer pra poder viver em sociedade. Qualquer criança deveria aprender que não se pode fazer tudo o que quer. Desejos não são direitos. Daí podemos voltar a refletir sobre a família, com menor risco de confusões nesse ponto.

Quando se estuda História, deve-se evitar as chamadas falácias de Parmênides - analisar fatos passados sob o prisma dos conhecimentos e da linguagem de hoje. Veja aqui um exemplo. Para entender um texto, não se pode ficar preso ao significado atual das palavras, mas no sentido que o contexto e a época estudada davam a ela. Por essa razão, os significados que usarei, para poder dialogar com os textos que serão citados, são que um "casal" é um homem e uma mulher (quando alguém diz que tem um casal de filhos, logo pensa em um menino e uma menina, ninguém pensa dois meninos ou duas meninas) e que surge uma "família" desse relacionamento, quando se incorporam a ele filhos. Esses significados estão ficando cada vez mais distantes de nós.

Mesmo o comunista Friedrich Engels percebe, em "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", que o reconhecimento da molécula fundamental pai-mãe-filho coincide com o início do desenvolvimento das civilizações. Só que Engels considerava a família como um produto do meio, e não o contrário. Discordando das ideias comunistas, no lado oposto das discussões antropológicas do século XX, Bronislaw Malinowski, em "Sex and Repression in Savage Society", indica que quando os humanos começam a controlar seus instintos em sociedades organizadas, a família se torna o berço do nascimento da cultura. Não é um produto dela, mas o ponto de partida da organização social. Até chegar nisso, as sociedades primitivas foram desenvolvendo regras para o comportamento sexual, ou seja, mesmo nas tribos mais selvagens já existiam limitações. A cultura não é instintiva para o homem, mas um produto de esforço moral e disciplina social. Assim se desenvolveram, mais do que outros, os povos europeus, chineses, indianos, na antiguidade. Quando, porém, os gregos e romanos começaram a liberar comportamentos como, dentre outros, a homossexualidade, o aborto, o declínio no número e tamanho das famílias, não por acaso seu declínio se acentuou. À medida que se revalorizava a família, a civilização européia se recuperava. Ou seja, quanto mais se tem o "direito" a fazer o que se quer, mais nos aproximamos da barbárie. A civilização é fruto das virtudes, não do seguimento dos instintos. Outros pensadores desenvolveram o tema:

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"A família pudera-se muito bem definir como uma instituição humana essencial. Ninguém negará que ela foi a célula principal e a unidade central de quase todas as sociedades que até hoje existiram, excetuando-se, é claro, sociedades tais como a da Lacedemônia, que teve por objetivo supremo a eficiência e pereceu sem deixar vestígio de sua passagem sobre a terra. A despeito de sua profunda revolução, o Cristianismo nem por isso alterou aquela antiquíssima e bárbara relíquia; não fez senão inverter-lhe a ordem. Não negou a trindade de pai, mãe e filho. Apenas a leu ao contrário, convertendo-a em filho, mãe e pai. E ela passou a chamar-se, não simplesmente família, mas Sagrada Família, pois acontece que muitas coisas ficam sagradas quando são vistas ao contrário. Entretanto, alguns sábios de nossa decadência têm atacado a família. Impugnaram-na, segundo creio, erroneamente; ao passo que outros a têm defendido, mas também equivocadamente. O argumento mais comum de defesa é o de que, em meio à tensão e ao torvelinho da vida, a família representa algo tranqüilo, agradável e coeso. Mas há um outro possível argumento de defesa, que me parece evidente, qual seja o de que a família não é algo tranqüilo, agradável ou coeso." G.K. Chesterton


"A criança é o corolário significativo do pai e da mãe, e o facto de se tratar de uma criança humana traduz o significado ancestral dos laços humanos que ligam o pai e a mãe. Quanto mais humana, e por isso menos bestial, for a criança, mais esses laços ancestrais são duradouros e adequados à ordem da natureza. Por isso, não é um progresso na cultura e na ciência a tendência para enfraquecer esse vínculo primordial, mas antes o progresso deve ir logicamente no sentido de fortalecê-lo… Este triângulo de truísmos constituído pelo pai, pela mãe e pela criança, não pode ser destruído; só podem ser destruídas aquelas civilizações que não o respeitam." G. K. Chesterton

"Exceto pelas crianças, não haveria necessidade de qualquer instituição preocupada com o sexo. É somente por causa das crianças que as relações sexuais têm importância para a sociedade e merecem ser reconhecidas por uma instituição legal." Bertrand Russel

"A pátria é a família amplificada." Rui Barbosa

Desta forma, para a lei, o diferente, conceitualmente falando, de todas as relações sexuais humanas existentes, é o casamento, pelo seu potencial de realmente se tornar uma família. Por causa das crianças, não dos adultos, o Estado concede determinados direitos aos casais, porque se entende que é justo, por trazer um bem para a sociedade: os bebês e seu cuidado, que surgem espontaneamente. Ao tratar desigualmente os desiguais, ninguém tem direitos diminuídos por isso.

Pois bem, em nome da igualdade, do progresso, da mente aberta, do pensamento correto, somos chamados a revisar o conceito de família, "base da sociedade", segundo a Constituição de 1988, art. 226, caput. O Código Civil traz, no seu Art. 1.723, "É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família." Ora, na época da Emenda Constitucional que instituiu a união estável, reconhecia o ministro Ricardo Lewandowski, “nas discussões travadas na Assembleia Constituinte a questão do gênero na união estável foi amplamente debatida, quando se votou o dispositivo em tela, concluindo-se, de modo insofismável, que a união estável abrange, única e exclusivamente, pessoas de sexo distinto".


Em se tratando da base do edifício, todo o cuidado é pouco para o restante não ruir. É no mínimo arriscado, pois, a redefinição de casamento e família, porque são instituições que não foram inventadas pelos seres humanos, mas descobertas, reconhecidas, e por isso atemporais. Um belo dia nos demos conta de sua existência e lhe demos um nome. Podemos melhorar a descrição de como ela é, mas nunca redefini-la. Em relação a este tipo de coisas, não se deveria raciocinar em termos de Direito Positivo, mas de Direito Natural. 

Dentre as várias perspectivas pelas quais a questão pode ser avaliada, deve ser priorizada a das crianças, pois são a parte mais frágil da situação. São elas que têm o direito de nascer fruto de um casamento, e não o contrário. As sociedades descobriram, pelo bem das crianças, que o casamento tem o potencial de gerar filhos e cuidar deles com um afeto naturalmente virtuoso -- uma família. A família deve ser, para os adultos, antes um dever perante as crianças, do que um direito. O casamento não é somente uma união romântica de afetos, mas também um comprometimento perante a sociedade de cuidar dos frutos dessa união. As crianças têm o direito de serem geradas em um ambiente saudável, fruto de uma união entre duas pessoas responsáveis, não de encontros frugais de duas pessoas que mal se conhecem, ou de relações que buscam tão somente uma busca de prazer inconsequente. Nós, adultos, temos plena capacidade de nos esforçarmos nesse sentido.

Por isso, várias culturas perceberam que o melhor para as crianças é que casamentos sejam indissolúveis, únicos, até à morte. O adultério é uma relação não oficial, um acasalamento fora da expectativa cultural das pessoas, mas que ainda assim não muda o fato de que uma criança só pode ser proveniente de um encontro entre um homem e uma mulher. Ainda que fora das convenções sociais ideais para ela, a criança fruto de um adultério continua a ter um pai e uma mãe. Pelo mesmo fato biológico imutável, as técnicas de tratamento da infertilidade fortalecem a potencialidade de que novas vidas sejam geradas por um homem e uma mulher, diminuindo então a objeção a que pessoas inférteis se casem. Não há diferença no tipo de relacionamento sexual de casais férteis ou inférteis como potenciais geradores de vidas. A possibilidade teórica de geração mútua é que torna a união de duas pessoas um casamento e uma potencial família. Tanto que infertilidade ou impotência é condição suficiente para anulação de casamento (inclusive para a Igreja Católica, diga-se de passagem), o que é diferente do divórcio. Declara-se nulo algo que nunca existiu, portanto não pode ser desfeito. 

Isso tudo fortalece a instituição do casamento, ao invés de enfraquecê-la. Poder-se-ia questionar se pessoas idosas ou irremediavelmente inférteis deveriam ter acesso ao casamento. Mesmo assim, esses casamentos se aproximam da relação fértil, à medida que reproduzem a complementaridade dos sexos. De qualquer forma, considero mais razoável não haver esses casamentos do que haver entre  homossexuais. Mas, levando em conta a possibilidade de adoção, os idosos e inférteis ainda podem se "aproximar da filiação natural", conforme comentarei adiante.

Mesmo que a moral sexual apresente diferenças nas diversas partes do globo no decorrer da história, em todas há o aspecto comum de se preocupar com a prole e seu cuidado, elaborando regras e restrições ao comportamento sexual dos indivíduos -- por exemplo, para controlar relações incestuosas, consanguíneas e pedofilia. Todas essas coisas são naturais (no primeiro sentido) no ser humano, mas saber controlar certas vontades naturais em sociedade é o que nos diferencia dos animais. Ou seja, mesmo entre homem e mulher, não é todo mundo que pode se casar. Isso porque as crianças têm o direito de saber quem são seus pais e serem cuidadas por eles. Cachorros fazem tudo o que querem, nós não. 

A criança tem o direito de ter uma genealogia, por isso, em uma certidão de nascimento deve constar o nome do pai e da mãe, independente do relacionamento que eles têm hoje, pois o que importa é o que tiveram uma vez e que gerou a criança. Uma criança pode ter um pai e um padrasto, por exemplo, e/ou uma mãe e uma madrasta, nos casos de divórcio, adultério ou viuvez. Padrastos e madrastas não precisam adotar o filho de seu companheiro para tratá-lo como enteado, nem alteram o sentido original de família para a criança. Há uma ordem: o padrasto e a madrasta não são pai nem mãe, tanto que recebem outro nome. Pode-se construir laços afetivos como se da família fossem, mas não irão constar em seus documentos, nem terão primazia de direitos em relação aos pais. Nada muda, para a criança, a sua gênese - seu pai e sua mãe. Ela tem o direito de conhecê-los, conviver, ser educada e cuidada por eles, de se situar em uma genealogia, de saber que tem uma origem.

Tristemente, algumas perdem seus pais ou são abandonadas, sendo cuidadas por outras pessoas em orfanatos. O Estado as mantém porque são uma parcela indefesa da sociedade, é justo e de interesse público cuidar delas e incentivar particulares a prestar esse serviço. É melhor, então, que alguém se disponha, generosamente, a cuidar delas. O Estatuto da Criança e do Adolescente regulamenta a adoção nos termos, dentre outros, do seu artigo 43, que tem por redação: "A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos." Recomendo a leitura deste estudo aqui, de uma especialista em Direito Civil, no qual é notável a preocupação de "imitar a filiação natural". Há também um juízo moral previsto na lei, vide seu Art. 3º, que é necessário, pois não é só porque existem interessados se apresentando que essa adoção será boa para a criança.

Assim, um homem e uma mulher generosos podem se oferecer para substituir, de fato e de direito, o pai e a mãe daquela criança, que irão "imitar a filiação natural". A criança tem o direito de receber um pai adotivo e uma mãe adotiva, havendo uma ordem respeitada aqui: o pai e a mãe adotivos são pai e mãe substitutos, já que os primeiros estão indisponíveis por força maior. Recriam, pois, esses laços para ela. Quando, por outro lado, ela é cuidada por 30 funcionários públicos no orfanato, nem por isso precisa ser registrada com, digamos, 10 "pais" e 20 "mães", pois são só pessoas que cuidam dela. Em alguns casos, se tem concedido que a criança seja adotada por uma pessoa somente, tendo somente um pai ou somente uma mãe em sua certidão, o que não foge tanto de uma situação real, mas mesmo assim indesejável. Se um dos pais está morto, ele não deixa de ser pai ou mãe. Quando, porém, dois homens ou duas mulheres adotam uma criança, a privam do seu direito de ter um pai ou uma mãe. Se fossem imitar uma situação natural, poderiam adotar a criança com um pai ou uma mãe, mas não é isso o que querem. Colocam o seu suposto direito na frente do da criança.

Vejamos este caso sob a ótica da criança. Quando fizeram a inseminação artificial, alguém pensou no direito dela de ter um pai conhecido? Ela veio do espermatozoide de um pai que se negou previamente a conhecê-la, com o consentimento da mãe, que pagou - caro - por isso. Fizeram bastante força para gerar a coitada da criança nessa situação. Por que se permite que isso aconteça? É um abandono premeditado e intencional. É completamente diferente da pessoa que perde o pai ou é abandonada. Querem lhe dar uma segunda mãe no lugar do pai. Ora, ela tem um pai. Ou seja, desde o início o direito prioritário não foi o da criança. Agora querem remendar um mal-feito com outro -- uma gambiarra jurídica. Seria menos complicado explicar para a criança que ela não tem pai conhecido do que duas mães -- o que ela não tem, definitivamente. Ela vai ser criada num ambiente que diz: não precisamos de homens, podemos comprar esperma congelado, como bois e vacas. Ser mãe e homossexual dessa forma significa dizer para a criança: eu desprezo o seu pai e ele despreza você, você foi gerada num ambiente de mútuo desprezo. Isso está bem longe do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 

Há um falso conceito, derivado da ideologia de gênero, de que não existe nenhuma diferença entre os sexos. Daí alguns pensam que qualquer diferenciação entre os sexos é uma discriminação injusta. Se assim fosse, tanto faria ter duas mães ou dois pais, pois não existiria figura masculina ou feminina. Mas, se tanto faz o sexo, termos como heterossexual e homossexual não fazem sentido. Se pedem tanto respeito às diferenças, por que insistem tanto em que não há diferenças? Por que chamam de retrógrados os que não defendem mudanças nas leis, mas para isso usam como argumento a (falta de) lei moral de milênios atrás? Tudo isso é falso porque evidentemente auto-contraditório, como o cético que duvida de tudo, até da sua dúvida. Falso, porque não corresponde à realidade. Afinal, a pessoa que quer ter filhos tem que se render à diferença imposta pela biologia, que permitiu a sua própria existência. Confundem igualdade com equivalência. Homens e mulheres são iguais em dignidade, mas não são equivalentes em suas características, ou nem mereceriam distinção linguística. Toda criança aprende a diferença entre meninos e meninas. O que vão querer fazer com isso depois de crescidos é outra coisa. A luta pelo respeito à diferença terminou por anular a diferença. No comunismo terminamos todos pobres, no gayzismo  terminamos todos assexuados.

Em resumo, a adoção por um casal reafirma a importância da família para aqueles que a perderam, reconstruindo laços cortados, enquanto a adoção por outras pessoas os afastam da ideia de família, necessariamente. Casar-se e ser pais de crianças não depende da sexualidade da pessoa, mas do seu sexo em si. Sexo, do latim sectare - separado, diferente. Uma criança precisa de pai e mãe, por mais amor que possa ser dado na ausência de um, sempre haverá uma lacuna. Se há muitos órfãos, por que, em nome da dignidade da pessoa humana, o governo não incentiva economicamente casais a adotar crianças? Talvez usando as verbas públicas para os orfanatos, ou o dinheiro gasto para distribuir lubrificantes sexuais? As crianças não tiveram a opção de serem abandonadas. A tão defendida opção sexual agora tem que ser financiada com dinheiro público?

Mesmo que se desconsidere as crianças, não é justo nem de interesse público que dois homens ou duas mulheres tenham direitos diferenciados só porque gostam de fazer determinado uso de seus órgãos reprodutores. O que há de tão importante e benéfico para a sociedade nisso? O que há de tão sagrado aí que ninguém possa julgar ao menos moralmente reprovável? Querem ter acesso aos direitos dos casais sem ser um casal de fato.

Mas vamos fazer um esforço e tentar pensar que estamos somente tentando melhorar a definição para incluir o que antes não estávamos percebendo por preconceito e conservadorismo irrefletido. Vamos supor que o casamento é feito somente de afeto. Então dois amigos que dividam um apartamento e se gostam bastante são um casal. Ah, não, para isso eles precisam ter relações sexuais. O fundamento dessa "família", na verdade, é um afeto acrescido de coito anal, e seus frutos vão terminar na privada, na melhor das hipóteses... O que a sociedade ganhou com isso? Mais cocô? Nesse raciocínio, se meu pai começar a odiar minha mãe ele deixa de ser minha família? Se meu avô e minha avó não fizerem mais nada na cama, deixaram de ser um casal, apesar de terem dezenas de herdeiros? Sentimentos vão e vêm, a base da sociedade devia ser algo mais firme, não?

A família torna possível a sociedade, primeiro gerando bebês e depois criando estruturas sociais civilizadas que cuidam deles com afeto. O casamento e a família são nomes para instituições que existem independente da lei, que não tem o poder de criá-los ou redefini-los, mesmo que se queira, só restando reconhecê-los pelo que são, independente de nossa vontade. Podemos até chamar um quadrado de triângulo, mas ele não deixará de ter quatro lados porque o chamamos com o nome de outra coisa. Um relacionamento homossexual não será nunca um casamento, menos ainda uma família, mesmo que a lei comece a chamá-lo assim e isso esteja escrito em uma certidão. Buscar soluções jurídicas para, por exemplo, pensão, seguridade social, plano de saúde, etc, modificando abruptamente o sentido das palavras causará insegurança jurídica, desordem na sociedade. É possível outro tipo de contrato. Relações contratuais baseadas somente em afeto e interesses comuns se chamam clubes, associações, empresas, sociedades. No andar da carruagem, não demora para que sejam celebrados "casamentos" entre duplas do mesmo sexo, se conceda adoção e tudo o mais. Já se fala inclusive em arranjos "poliafetivos", vide análise do último censo. Será a volta da poligamia e poliandria institucionalizada, que existia antes da civilização.  Daqui há pouco haverá "casamento" coletivo. Isso é que é ser retrógrado e antiquado. Para tudo criam uma nova palavra para coisas velhas. Não dá pra concordar quando dizem que não querem destruir nada. Não só querem como o têm feito, há décadas. É certo que o casamento civil não passa de um contrato e que o religioso pode continuar com suas celebrações matrimoniais do jeito que quiser, mas se esse contrato já abarca tantas realidades de arranjos diferentes, já não se pode mais chamá-lo casamento, pois já não é muito diferente do contrato social de uma empresa particular. Está destruído, no Direito de Família, o casamento. Como não querem admitir isso, mudam o significado do termo até que ele não signifique mais nada. Isso se chama significante vazio, por culpa de Ernesto Laclau, sobre isso veja um pouco aqui. É a versão moderna do velho sofisma.

Agora defendem que o termo "homossexualismo" não é adequado, pois o sufixo -ismo é para doenças, o correto é "homossexualidade". Então comunismo agora vai ser comunidade? Capitalismo, capitalidade? Socialismo é sociedade? Eles vão ter que acostumar a discutir com quem acredita na "cristianidade"? 

Doença é essa tara de ficar mudando os termos a toda hora. Como isso já virou práxis, resta agora acrescentar algum adjetivo infeliz ao casamento e à família para se referir ao seu significado original: casamento tradicional, natural, antigo, etc. Será como se referir a triângulos de três lados, sem que as pessoas percebam o pleonasmo. Devemos preservar uma substância, não somente um nome, mas estamos mudando os nomes e a consequência é a perda da noção da substância. 

Dizer que algo é bom porque é antigo é tão falacioso quanto dizer que é bom porque é novoNão é porque a família é tradicional que a defendem. É porque a defenderam por milênios que ela se tornou tradicional. Justamente porque é uma instituição frágil, mas é o berço e a base da civilização, foi e deveria continuar sendo defendida, incentivada e fundada em bases mais sólidas do que a lama movediça dos sentimentos humanos. Enquanto isso, ficamos aqui debatendo termos, numa sociedade que não sabe nem que língua fala mais e acha que rejeitar as regras da lógica é a mais alta filosofia.

A mentalidade prejudicial ao bem comum é a prática maquiavélica de reformar intencionalmente os conceitos para atingir objetivos predeterminados, e não por o que as coisas são em si, gerando uma confusão semântica na mente das pessoas que atrapalha os diálogos e até o desenvolvimento da ciência. Isso é obscurantismo velado, disfarçado de esclarecimento. Na confusão encomendada sobre o que é o bem e o mal, o mal é não saber mais o que é o bem. Para parecer moderninho um monte de gente vai seguindo a moda e troca de opinião como quem muda de roupa. Efeitos colaterais de neofilia. Isso, sim, gera preconceitos e potencializa agressões, por pura incapacidade de entender o que o outro quis dizer. Em nome de um suposto progresso, estamos regredindo como civilização. Estão causando falácias de Parmênides de propósito, com o objetivo de causar confusão. Os discursos estão normalmente tomados de emoções e incompreensões de todos os lados e a boa-vontade tem passado longe. Não se deveria ofender nem apedrejar ninguém por pensar diferente, como esse pessoal aqui. Não se deveria censurar articulista pelo mesmo motivo, como aqui. Nem incentivar ou aceitar que se cometam agressões e ofensas contra quem quer que seja, ou alguém revogou o "não matarás" e não estou sabendo? Aliás, dizem que há uma epidemia de homofobia. O estudo completo do Grupo Gay da Bahia, completamente sem fontes de dados, indica "impressionantes" 260 assassinatos contra gays. Pois, se temos 49.932 homicídios no mesmo período, não preciso de doutorado para ver que os assassinos preferem duzentas vezes mais matar os heteros. Se o mesmo grupo afirma que os gays no Brasil são ao menos 10% da população, para haver homofobia os crimes deveriam apresentar uma proporção maior que esta em relação ao total, não 0,5%!!! Ah, sim, 99% dos brasileiros são homofóbicos e devem ser reeducados.  Democracia mudou de sentido também, agora é 1% dizer ao resto em que deve acreditar. Liberdade de crença também mudou, você pode ter a religião que quiser, desde que ela não discorde nesse ponto, senão você é homofóbico. O Estado agora assume a função de exegeta bíblico enquanto se diz laico. Estão me chamando de burro ou o quê? Então, se não sou comunista, sou comunistofóbico, se não sou nazista, sou nazifóbico, se não sou estrangeiro, sou xenofóbico? Se não gosto que toquem funk alto na minha rua eu sou funqueirofóbico? Se eu gosto de andar pelado, toda a sociedade deve mudar seus conceitos sobre eu não poder fazer isso em público? É minha maneira de manifestar amor por todos... Daqui a pouco vai ter parada do orgulho nudista. Direito agora é baseado nas vontades das pessoas, basta ter evidência científica que qualquer comportamento se torna lícito? Sempre houve pedofilia, poligamia, zoofilia e outros mais. Deve haver razões biológicas e psicológicas para isso, mas a explicação das causas não torna nada santo e intocável.

Afinal, essa é a sociedade que queremos? Com mais afeto? Veja o que confessam essas imagens, da manifestação recente na França pró-casamento-gay.


"Sim ao divórcio para todos" - Mas não queriam casar?

"Até a abolição do casamento. Liberdade, igualdade, orgulho"

Isso não irá gerar mais afeto na sociedade, mas incendiar um debate que de per si já é carregado de emoções e ressentimentos. Por tudo isso, não é bom para a sociedade brasileira o STF acreditar que tem o poder de mudar os significados de conceitos naturais - independentes da lei e da sociedade - para fazer nossa Lei Maior dizer o que nunca quis, além de exercer, na prática, o poder de constituinte derivado que deveria ser exclusivo do Legislativo. Será que nesse Admirável Mundo Novo já podemos dizer "feliz 1984"? 

“O progresso técnico é rápido, mas é inútil sem um idêntico progresso na caridade. Antes, é mais que inútil, porque nos disponibiliza uns meios mais eficazes para retroceder”. Aldous Huxley

A maior confusão, porque fonte de todas as outras, é a de afeto com amor. Atração sexual somente, tenha ela a causa que for, não é amor. Namoros, flertes, transas, são paixões, não amor. Podem ser componentes do amor, partes dele, mas não o são em sua totalidade. Há um quê de compromisso, doação, resiliência, renúncia, sacrifício, para que seja amor completo. Toma-se somente Eros e Philia, esquece-se do Agape. Quem  disse que o casamento é um mar de rosas, que as pessoas são infinitamente felizes e realizadas, que não há dificuldades nem restrições? Isso é romantismo ingênuo.  Casamento primeiro foi dever antes de ser direito. Voltemos a Roma, que conhecia tão bem a homossexualidade, estará lá o matrimônio e suas regras no corpus juris. Nada de homem com homem na lei. Por isso, o fundamento da família não deve ser os sentimentos que as pessoas têm, que nem sempre são bons, tranquilos e harmoniosos, mas o amor, porque é uma virtude, não um sentimento passivo, mas um propósito, uma disposição firme em prol de algo maior e que pode, sim, ser um mandamento, desejável como sólido fundamento para a sociedade. As crianças merecem ser amadas e não serem vítimas de gambiarras jurídicas e sociais. 

Encerro, de novo, com Chesterton, que viveu no início do século XX, com essa surpreendente descrição da nossa situação atual :


“Suponhamos que surja em uma rua grande comoção a respeito de alguma coisa, digamos, um poste de iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de batina cinza, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica: “Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da luz. Se a luz for em si mesma boa…”. Nesta altura, o monge é, compreensivelmente, derrubado. Todo mundo corre para o poste e o põe abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente pela praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz elétrica; outros, porque queriam o ferro do poste; alguns mais, porque queriam a escuridão, pois seus objetivos eram maus. Alguns se interessavam pouco pelo poste, outros, muito; alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos municipais. Outros porque queriam destruir alguma coisa. Então, aos poucos e inevitavelmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, voltam a perceber que o monge, afinal, estava certo, e que tudo depende de qual é a filosofia da luz. Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora devemos discutir no escuro.” G. K. Chesterton, Hereges, Ed. Ecclesiae


Mais em:

http://gloria.tv/?media=358246
http://sacramentodeamor.org.br/novo/a-constituicao-brasileira-a-familia-e-a-inseguranca-juridica/
http://catholiceducation.org/articles/marriage/mf0060.html
http://www.firstthings.com/article/2013/02/homosexual-marriage-parenting-and-adoption