sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ecce homo

Quando, no meu último texto sobre família, eu disse que me opunha às filosofias que pregam uma determinação do homem por ele mesmo, talvez poderia ter me expresso melhor pela palavra ideologia. Alguns exemplos seriam a eugenia, que influenciou fortemente o racismo e o nazismo, culminando no holocausto; o comunismo, que pretendia implantar o paraíso aqui na terra através da luta de classes e semeou o ódio pelo mundo matando milhões de pessoas; a ideologia de ausência de gênero, que acredita que não há identidade sexual predeterminada, mas que o sexo seria totalmente influenciado pelo meio, dentre outras. Toda vez que se negligencia algum aspecto da natureza humana e se tenta redefinir o ser humano por algo que ele não é, abre-se o caminho para as tragédias. Para mostrar que não me oponho à boa prática científica, antes a incentivo como meio para desfazer preconceitos, chamo à palavra um especialista em genética. Vamos ver como as coisas são.



Só não concordo com a última parte, onde ele comenta sobre a teoria da evolução e apresenta o argumento da maioria. Quando Galileu, Copérnico, Newton, Fourier e tantos outros propuseram suas teorias elas não foram bem recebidas pela maioria das pessoas em suas épocas, mas terminaram sendo aceitas por sua comprovada correspondência à realidade. Aliás, por maioria de votos já crucificaram e jogaram aos leões pessoas inocentes. Mas, isso já é outro assunto. Em resumo, existem evidências científicas que mostram tanto uma predisposição genética ou hormonal quanto fatores externos (sociais, culturais, psicológicos) que influenciam - mas não determinam - o comportamento sexual dos indivíduos. Quer dizer, cada um é um e dividir o mundo em heteros de um lado e homos de outro já uma enorme simplificação.

Com isso em mente, vemos que a discussão sobre a redefinição de casamento para incluir relacionamentos homossexuais pode ser acompanhada de desejos muito bons - a busca da felicidade e da justiça -, enquanto a oposição a essa redefinição pode ser motivada por sentimentos de medo ou ódio aos homossexuais. Contudo, a questão deve ser avaliada em seus próprios méritos e não pelos sentimentos das pessoas. Vamos fazer um exercício, neste momento, de não entrar em juízos morais ou religiosos acerca do comportamento de ninguém, apenas analisando as coisas objetivamente.

É verdade que podemos mudar de ideias e mudar as definições das coisas. Algumas redefinições são possíveis. Por exemplo, podemos criminalizar alguns comportamentos e depois descriminalizá-los. O adultério já foi crime, o homossexualismo também. Porém, algumas redefinições não são possíveis. Chamar quadrados de triângulos não os transforma em triângulos. Chamar cachorros de gatos não os fará miar. Dizer a um homossexual que ele não o deve ser não vai mudar nada, assim como chamar dois indivíduos do mesmo gênero de casal não os fará um casal. Isso não depende se são bons ou ruins, se suas intenções são boas, do que sentem um pelo outro, mas do que são, da sua natureza, da sua essência. As palavras que usamos estão ligadas a determinados conceitos. Se mudarmos a palavra, a coisa continuará sendo o que é e ninguém vai entender mais nada da conversa (infelizmente, é o que estamos percebendo em algumas situações: tem gente se aproveitando para gerar mais confusão e ganhar no grito). Se pensarmos que não há naturezas nem essências, seguiremos a filosofia do nominalismo e terminaremos completamente céticos sobre tudo.

Sabemos que a natureza do homem comporta um corpo físico que lhe foi dado, com algumas características predeterminadas, conforme vimos no vídeo. Não há escolha aqui, ninguém escolhe nascer com o corpo que recebeu. Todos temos também uma dimensão sentimental, que também é passiva. Nossos sentimentos ocorrem independente de nossa vontade. São muitas vezes influenciados pelo corpo físico através de sensações, hormônios, etc. Sentimos felicidade, raiva, atração, repulsa, medo, ansiedade, uma infinidade de coisas que nos vêm sem que tenhamos como escolher. Não posso escolher gostar de alguém, pois gostar é um sentimento. Às vezes temos desejos bem indesejáveis! A terceira dimensão é a mente, racional, que é capaz de receber as informações provenientes dos sentidos, processá-las e atribuir significados. Na racionalidade é que reside o poder de tomar decisões, de fazer escolhas, de fazer juízos. Quando a razão consegue controlar as atitudes que tomamos, a isso chamamos virtude. Estão esquecendo de ensinar isso para as crianças! Na verdade, existem vários modelos que explicam a natureza humana. Esse é bem simples,  auto-evidente e facilmente observável, o suficiente para desenvolver nosso raciocínio aqui.

A consciência é o último reduto da liberdade. Podem te prender e torturar, mas ninguém pode controlar o seu pensamento, a menos que você permita, ou seja enganado. Quando, ao contrário, são os sentimentos que controlam as atitudes, sem nenhum tipo de racionalidade, é como se o cachorro te levasse para passear e não o contrário. Você se torna escravo do seu lado animal. 

Considerando dessa forma a natureza humana, não posso concordar com a criminalização do que estão chamando de homofobia. Não com essa definição. Podemos aprender a controlar atitudes - mesmo que essa capacidade não seja absoluta -, mas nunca sentimentos. Não posso cometer um crime sobre uma coisa sobre a qual não tenho controle. Isso gerará mais sentimentos ruins, mais estranhamento, mais ódio. Tentar obrigar uma pessoa a ter sentimentos que não tem é como tentar obrigar um homossexual a deixar de sê-lo. Mais uma vez, não podemos redefinir a natureza humana. Não se cria afeto por decreto.

Podemos perceber, também, nas discussões, que é natural querer demonizar as pessoas que têm opiniões contrárias à sua. É natural confundir oposição com ódio. É natural se sentir ofendido. É natural querer ofender, falando o que pensa sem pensar no que fala. É natural ter preconceitos. Mas, porque é natural não quer dizer que seja bom, nem desejável. Isso tudo se vence usando a inteligência, exercitando as virtudes.

Vamos supor, portanto, para sermos científicos, que existem algumas coisas que são descobertas, e não inventadas. Já observamos como as pessoas são. O bom andamento da discussão depende de uma coisa só: se o casamento e a família são uma invenção humana, portanto passível de redefinições, ou se têm uma natureza própria que deve ser descoberta pela razão. É imperativo escolher um dos dois, pois são pensamentos contraditórios entre si. Ou então, lave suas mãos.


PS: Ecce Homo, "Eis o homem", são as palavras, em latim, que Pôncio Pilatos disse ao apresentar Jesus Cristo aos judeus.

PPS: Se você se interessar pela resposta católica a um homossexual, recomendo este vídeo.

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