segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Eu não gosto do Papa Bento XVI

Tenho ouvido, desde o último conclave, uma frase que ficou na moda: "Eu não gosto do Papa Bento XVI", acompanhado de suas irmãs "Eu gostava mais do João Paulo, ele era mais simpático" e assemelhados. Os motivos são tão superficiais quanto contraditórios. Uns gostam por que é conservador, outros não gostam pelo mesmo motivo. Já outros não gostam por que o consideram muito progressista e por aí vai.

A rigor, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. O caso é outro, bem diferente e bem mais exigente: temos que amá-lo, primeiramente por que é uma pessoa, não é esse o mandamento? Amar não é gostar, ainda vou escrever mais sobre isso. Além disso, por que é bom que tenhamos um papa. Assim como é bom que tenhamos um presidente da república. Você não precisa gostar da pessoa, mas do cargo sim. Dom Bosco ensinava seus alunos a gritar: "viva o Papa!"  e não "Viva Pio X, Bento XV, Leão XIII, o que for ". Pois, o que os católicos devemos ter como bom é a presença de um sucessor de Pedro na Terra, por pior que ele seja. É bom ter um papa, melhor ainda se ele for bom, lamentável se for ruim, mas nunca sem nenhum.

Tem também aquele papo de "como assim o papa é infalível?" e as pessoas imaginam logo que os católicos inventaram uma história que o cara é o super-homem, que tem superpoderes e todas as ovelhinhas inocentes têm que aceitar de pronto tudo que ele diz, para manter os seus poderes político-religiosos sobre grande parte da humanidade, etc. É claro que deve-se respeito à sua posição e o que ele diz deve ser ouvido com muita boa-vontade. Mas, não vejo a ideia da infalibilidade como um super poder extraterreno, vejo antes como uma limitação. De fato, mesmo se você não é católico, há de convir comigo que se a pessoa acredita nessa Igreja, é porque ela acredita que Deus fala através dessa Igreja. E é bem razoável pensar que esse mesmo Deus onipotente não permitiria que o chefe máximo, a autoridade máxima dessa Igreja ensinasse algo de errado em matéria de fé e moral, em determinadas circunstâncias bem estritas. Anotou? Em matéria de fé e moral. É isso que se verifica na história dessa Igreja, um conjunto harmônico de ensinamentos de fé e moral, que você pode concordar ou não, acreditar ou não, seguir ou não. Só não pode dizer outra coisa diferente como se católico fosse, se quiser ser coerente intelectualmente, mas se isso não for muito caro para você, pode parar de ler esse texto por aqui. Se você não acredita em Deus, ou na Igreja Católica, não há como acreditar em papado mesmo. Em outras palavras, se Sua Santidade acordar de mau humor e falar algum despautério para os jornalistas amanhã cedo, isso seria um pecado, uma leviandade, um descuido muito sério dele, mas não vai abalar minha fé. Vai me fazer rezar por ele. É isso que me faz confiar em Bento XVI e qualquer outro que vier, pois a promessa de Cristo de que "as portas do inferno não prevalecerão sobre ela" me leva a acreditar nisso. Padre Ratzinger, que foi considerado um perigoso modernista no Concílio Vaticano II, vem adotando posturas que nos convidam a visitar o passado da Igreja e descobrir, assim, um riquíssimo tesouro espiritual.

Os exagerados que vêm com aquela velha história: ah, mas existiram muitos papas ruins, quem estuda a história acaba deixando de ser católico, pois essa igreja já foi tomada de muita corrupção, etc e tal, por acaso já deixaram de acreditar na república e na democracia por toda a lama que se assiste hoje no cenário político secular? Por que então eu deveria deixar de ser católico pelo mesmo motivo? É claro que não devo gostar de um papa ruim. Minha frequência habitual aos sacramentos nada tem a ver com os pecados de alguns homens da Renascença (sim, não foi a Idade Média a época pior nesse sentido, como muitos desinformados dizem por aí), tem a ver com os meus. Até quando vão achar que argumentos fracos como esse vão me fazer abandonar uma tradição espiritual que formou tantos santos? E outra, por que se fala tanto dos pecadores, mas sobre os santos o silêncio é assustador? Por que é tão bonito falar dos religiosos podres e quando se começa a dizer "olha, que vida bonita teve Padre Pio" as pessoas viram a cara e já te olham com desprezo? Preciso responder?

Vejo numa banca de jornal revistinhas com "orações de cura", "novena milagrosa para a casa própria", "reza para se livrar das dívidas", ao lado de títulos do tipo "como montar uma empresa e ficar rico", "dietas para secar a barriga até o carnaval", "exercícios para concursos públicos". Que catolicismo é esse, minha gente? 
A resposta é simples: isso não é catolicismo. Ser católico de verdade não é um simples gostar de padres bonitinhos que cantam e papas velhinhos que dão tchauzinho e falam de paz. É muito, mas muito mais profundo que isso, muito mais exigente que isso. Não é defender tudo que se diz católico como se torce por um time de futebol. Não é um rezar para obter isso e aquilo, como se fosse um supermercado do "sucesso", uma relação de troca pagã entre a pessoa e seus santos de "devoção". Antes disso, é imitar o santo, é pedir sua ajuda espiritual para ser como ele foi: bem próximo de Cristo. Você não precisa gostar do padre, mas você tem que amar a Cristo através da pessoa do padre, muitas vezes apesar do padre. Aliás, para aproveitar bem os sacramentos não é nem muito bom prestar muita atenção no padre. Não nele como pessoa, mas na função que ele exerce ali.

No mais, eu gosto do Papa Bento XVI por uma identificação pessoal. Ele dá muitas indicações de ser um introvertido. Uma pessoa que volta e meia gosta de subir a montanha (física ou virtual) para refletir sobre a vida e se aprofundar em seus pensamentos. Creio que seja esse o remédio que o homem contemporâneo precise. Parar para pensar para onde estamos indo. A cultura da pressa que já abordei aqui, conjugada com a cultura da extroversão, veja aqui, tem produzido muita confusão, muito barulho, muito corre-corre inútil. A cultura do sempre novo, sempre jovem, que ainda pretendo abordar, gera um preconceito nas nossas cabeças que nos fazem rechaçar com muita pressa o falar lento e muitas vezes sábio dos mais velhos. A pressa de falar e aparecer não estão nos deixando ouvir o que têm a dizer os que não falam muito. São mais calados porque pensam muito no que falam . Por isso, quando falam, normalmente trazem conteúdo útil e interessante. Por que não podemos ter um papa tímido? Todos têm que ser comunicativos e midiáticos nos dias de hoje? Que preconceito é esse? Que intolerância é essa? Só os extrovertidos são dignos de amor e admiração? Só os jovens-bonitos-sarados-animados devem ter vez? Será que não está na hora da busca da sabedoria entrar na moda de novo? Se você não gosta da Igreja por que é muito "desanimada", "coisa de velho", "chata", meu amigo, você está procurando outra coisa, existem outros lugares que oferecem isso. Eu ultimamente tenho preferido mil vezes missas mais tranquilas, que me deixam rezar em paz do que aquelas em que se tem que seguir a coreografia sob pena de te olharem estranho com aquela cara de "olha que menino chato, parece um velho". Alô, mundo, estar quieto e falar baixo não é sinônimo de tristeza. Pode significar paz no coração, ok?

Enfim, por essas e outras, eu, que nasci católico, não consigo deixar de sê-lo. Sempre que ensaio uma excursão exterior volto pra casa correndo, mais convicto que antes. De certa forma, os ateus têm me ajudado a ser católico cada vez mais.

Um comentário:

  1. Meu amigo,
    Concordo em tudo que você disse.
    Daqui a pouco, vão querer que ao eleger o papa ele tenha que cantar, ter o corpo sarado e saber todas as coreografias, além de ter gravado centenas de discos...
    Estou na minha busca de ser católica, uma coisa eu posso te dizer, eu sei o que não é sê-lo. O que pra mim já é um bom caminho.
    Que Deus nos abençõe e que possamos ser católicos não por que os nossos pais são, mas porque somos.
    Um abraço

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