quarta-feira, 4 de abril de 2012

O comportamento introvertido é ruim ? - Conheça o poder das pessoas quietas


O chamado de uma introvertida a ação


Susan Cain, a autora de "Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking" (Quietos: O Poder dos Introvertidos em um Mundo que não Para de Falar"), é uma introvertida. Então, para que ela chegasse a apresentar no TED2012, não foi uma experiência confortável. Mas, foi uma experiência importante, este é o ponto.

Sua família cresceu lendo - eles liam juntos e levavam livros em suas viagens. Era assim que se socializavam. Ela contou a estória de uma ida a um acampamento quando tinha 9 anos. Sua mãe preparou para ela uma mochila cheia de livros para ler, quieta, o que normalmente sua família fazia nas férias, pensando que o acampamento seria da mesma forma. "Eu tive a visão de dez garotas sentadas em um pequeno quarto lendo livros, em seus pijamas." Mas, quando ela chegou ao "Acampamento Barulhento", foi ridicularizada na primeira vez em que leu um livro, e não pegou neles pelo resto do verão. Então ela demonstra sua atitude, colocando sua bolsa debaixo de uma mesa. 

Ela nos conta que tem pelo menos 50 estórias como esta. 50 formas, pequenas, em que a mensagem foi dada claramente: ser um introvertido é errado.

E isso a incomodou. Cain sentiu - teve uma intuição - que como introvertida ela tinha valor. Mas ela não sabia como articular isso naquela época, então se tornou uma advogada. Ela quis ser uma autora, mas todas as suas noções internalizadas sobre o que é bom a fez escolher, reflexivamente, a profissão associada a extroversão, escolheu ir a bares, ao invés de ter um agradável jantar com amigos.

Esta tendência, ela defende, representa perda para todos. Enquanto o mundo certamente precisa de extrovertidos, também precisa de introvertidos fazendo o que eles fazem melhor. Esta é uma tendência que não tem nome. Para entendê-la, precisamos entender que introversão não é não ser social, não é ser tímido, mas está relacionada com a maneira que a pessoa responde a estímulos. Enquanto os extrovertidos buscam interação social, os introvertidos são muito mais vivos quando estão sozinhos. Cain traz em sua tese o insight: "A chave para maximizar talentos é se colocar na zona de estimulação que é certa para você."

É uma lição muito simples quando ouvimos, mas muito difícil para alguém realmente agir desta forma. Como ela pontua, estamos vivendo em uma cultura que cada vez mais valoriza o pensamento em grupo. Nós acreditamos que a criatividade vem de espaços gregários muito estranhos. Na sala de aula, em que Cain e seus antigos colegas sentavam-se em colunas, para ler e trabalhar sozinhos, estudantes estão sendo colocados em grupos para que sejam membros de um comitê - mesmo para resolver problemas de matemática ou para escrever textos criativos. As crianças que preferem trabalhar sozinhas são vistas como casos problemáticos, e avaliadas como tal. Os professores reportam, e acreditam, que o estudante ideal é extrovertido. ("Mesmo que os introvertidos tenham melhores notas e conheçam mais.")

E acontece o mesmo nos ambientes profissionais. Introvertidos são rotineiramente preteridos para papéis de liderança. Esse é um problema real porque pesquisas mostram que, como líderes, introvertidos são mais cuidadosos, muito menos propensos a assumir grandes riscos e tendem a deixar que os membros criativos e proativos da equipe sigam com suas próprias idéias, ao invés de passar por cima deles ou esmagá-los - o que seria o comportamento ideal na empresa moderna.
De fato, diz Cain, alguns dos líderes mais transformadores na história - Eleanor Roosevelt, Ghandi, Rosa Parks - eram introvertidos. Cada um deles descrevia a si mesmos como quietos, de poucas palavras, ou tímidos. Essa quietude tinha um poder especial e extraordinário em si mesma. Pode-se dizer que esses líderes estavam lá porque não tiveram opção, porque eles estavam fazendo o que eles acreditavam que era certo.
É claro que Cain ama os extrovertidos, e ninguém é puramente intro- ou extrovertido. Nós todos estamos em algum lugar neste espectro. Mas, muitos de nós nos reconhecemos em um ou outro e "culturalmente precisamos de uma balança melhor, precisamos um Yin and Yang melhor entre estas duas coisas."

Solidão, como Cain diz, é uma chave para a criatividade. Darwin fazia longas caminhadas entre árvores e declinava convites para jantar. Dr Seuss escrevia sozinho, e tinha medo de se encontrar com as crianças que liam seus livros, pois receava que eles ficariam desapontados de ver como ele era quieto. Steve Wozniak dizia que ele nunca teria se tornado tão expert se tivesse saído de sua casa. É claro que a colaboração é boa (veja Woz e Steve jobs), mas há um poder transcendental na solidão.

De fato, a maioria das grandes religiões tem buscadores, Buda, Jesus, Maomé, cada um foi se retirar para aprender. Sem retiro, nenhuma revelação.

E as coisas que estamos aprendendo da psicologia afirmam isso. Não podemos estar em um grupo de pessoas sem olhar uns para os outros instintivamente, e grupos seguem as pessoas mais carismáticas, mesmo que não haja correlação entre ser um bom orador e ter boas idéias.

Mas por que estamos fazendo tão errado? Parte disso vem de nossa história. "As sociedades ocidentais sempre preferiram os homens da ação aos homens da contemplação. Bem, 'homem'." No topo disso, as pessoas estão se movendo para cidades e novos lugares, e ao invés de trabalharem com as pessoas que conheceram durante toda a sua vida, precisam conhecer e impressionar novas pessoas. Isso leva a uma linha de pensamento que valoriza ser popular e carismático.

Novamente, ela não está falando de eliminar o trabalho em equipe. Aquelas mesmas religiões ensinam amor e confiança, e precisamos disto mais do que nunca. Todavia, quanto mais dermos liberdade para que os introvertidos sejam eles mesmos, mais liberdade eles terão para aperecer com suas próprias e criativas soluções.

Cain então volta a sua bolsa e se oferece a nos dizer agora o que está nela. Eles são retirados e são: "Livros!". Três, de fato: Milan Kundera, Margaret Atwood e Eumonides. Esses são os autores preferidos de seu avô.

Seu avô era um rabi. Ele vivia sozinho em um pequeno apartamento no Brooklyn recheado de livros, e era o lugar preferido de Cain. Ele amava ler, mas também amava sua congregação. Ele lia constantemente, e ele "colheu os frutos de suas leituras e tecerias estas tramas intrincadas" para sua congregação. E também, enquanto falava, tinha problemas para manter contato olho no olho com as mesmas pessoas com as quais lidou por 62 anos. Em sua vida, quando alguém o chamava, ele terminava a conversa rapidamente, com receio de que estava desperdiçando o tempo do outro.

E quando ele morreu com 92 anos, a polícia teve que interromper a rua por causa da multidão de admiradores que queriam prestar suas homenagens.
Seguindo seu exemplo, Cain escreveu seu livro. Levou setes anos para escrever; sete anos de leitura, pesquisa, reflexão - valeram a pena totalmente. E agora que está pronto ela precisa sair pelo mundo e falar sobre ele. Isso não é uma coisa que vem facilmente, ou confortavelmente para ela. Mas, ela está animada, estes "anos de falar perigosamente", porque ela pensa que o mundo está prestes a mudar no tratamento com os introvertidos.
Para ajudar nisto, ela tem três chamados para ação:

1) "Parem com a loucura de constantes trabalhos em equipe." (A audiência aplaude.) As empresas precisam de conversas e bons espaços para interação. Mas nós precisamos de muito mais privacidade e mais autonomia. O mesmo é verdadeiro - mais verdadeiro - para escolas. Sim, ensinem as crianças a trabalharem em grupo, mas também as ensine a trabalhar sozinhas.
2) "Retire-se, seja como Buda. Tenha suas próprias revelações." Você não tem que construir cabanas nas árvores e ficar isolado, mas todos podemos nos desligar e nos concentrar em nossas mentes por um tempo.

3) "Dê uma boa olhada no que está dentro de sua própria bolsa e por que você colocou isto lá." Extrovertidos, cujas bolsas devem estar cheias de bolhas de Champagne e kits de sky-diving, nos agraciem com a energia e alegria destes objetos. Introvertidos provavelmente guardam os segredos de suas bolsas, e isso é legal.
"Mas ocasionalmente, só ocasionalmente, eu espero que você abra a sua bolsa ... porque o mundo precisa de você e do que você carrega."
Em um sinal de que ela está certa de que a mudança está vindo, quase o auditório inteiro, introvertidos e extrovertidos se levantaram para aplaudir de pé.

Traduzido de: TED blog

Veja também a introversão do Papa Bento XVI aqui.

5 comentários:

  1. Esse post aumenta a autoestima de qualquer indivíduo introvertido. Parabéns pelo post.

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  2. Jônata, tive algumas reflexões sobre isso nos últimos meses, li o livro de Cain e fiz uma revolução em minha vida, incluindo mudar de emprego e de cidade. Aprendi a dar valor a minhas qualidades. Ainda que o mundo barulhento em que vivemos não esteja muito preparado para isso, precisamos descobrir nosso valor e mostrar ao mundo que não viemos a passeio. Vou voltar a atualizar esse blog em breve, sua presença é muito bem vinda. Abraços.

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  3. Cara, isso é bom demais, porque eu sou introvertido e muita das varias vezes eu fico incomodado quando não consigo ficar sozinho um pouco, me ajudou muito.

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  4. Sou também um introvertido e sei que durante uma simples conversa a mente viaja a mil lugares, racionaliza e fantasia situações. Como se um mundo inteiro se dobrasse sobre nossas cabeças. Somos todos extrovertidos mas só pra gente mesmo. O que sai é o resultado de muito filtro. Na verdade só colocamos pra fora o que realmente vale a pena. Parabéns pelo texto. Fica ainda mais significativo conhecendo sua recente história. Grande abraço!

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  5. Acho horrível essa ideia de que se quer impor sobre as pessoas de que elas tem a qualquer custo de trabalhar com outras pessoas para serem eficientes. Quem prefere o silêncio e momentos sozinhas são tidas como erradas.

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