quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Desabafo

Perplexo caminho por este mundo, surpreso com a incoerência de alguns, com as desonestidades intelectuais e a torre de Babel que não tem fim. As pessoas discutem, concordam, discordam, a impressão é que quase sempre todos falam e ninguém se entende. Um fala A, outro entende B, que repassa para outro falando C, e o outro entende D. E as idéias vão seguindo num telefone sem fio e sem fim, de confusão em confusão, como se a humanidade fosse um imenso barco à deriva num oceano de incertezas. E ai de quem quiser ancorar em algum porto.

Simples questões como "em que você acredita e por quê?" são tidas como afrontas neste mundo relativista que considera radicalismo intolerável ter certezas absolutas, sem perceber que esta mesma é uma pretensa certeza absoluta.

Perplexo percebo que a verdade para alguns é como uma luz que ilumina demais e que incomoda aos olhos, ao ponto de a pessoa desejar voltar depressa para a escuridão. Preferem a caverna platônica e suas sombras, preferem criar os seus ídolos e "se sentir bem" com as verdades fabricadas. Ah, se ainda fossem por eles fabricadas, mas são meras repetições de idéias antigas, apresentadas como a última novidade. Mudam as moscas, mas o excremento não.

Atônito observo a repetição infantil de tudo que se ouve e vê, a recusa sistemática em parar para usar o intelecto, a burrice letrada "acha" demais e não tem nenhuma certeza, a burrice letrada lê de tudo um pouco e não sabe praticamente nada. A burrice letrada acredita no que diz a celebridade, especialista em fazer caras e bocas para sustentar seus "sólidos" argumentos científicos sobre qualquer assunto aleatório. A corrida atrás do rabo faz muitos, com pressa demais para perguntar se o caminho está correto, correrem a toda velocidad para lugar nenhum, como hamsters histéricos. E com muita pressa, morrem cedo demais pra se dar conta da sua pressa.

Talvez, se conseguirmos humildemente buscar, com um esforço a mais da razão, encontrar um pouco de coerência nas idéias e começar a clarear o caminho nesta noite escura, poderemos vencer as barreiras e incertezas e chegar em um lugar em que o céu seja límpido e ilumine nossas vidas sem cessar. Existiria, pois, tal lugar? Vale a pena buscar esse algo ou estaremos condenados a ficar na lama e no mofo, na terra fétida das nossas incoerências, no terror de nossos egoísmos e vaidades, que inexoravelmente vêm nos trazer novos pesadelos?

Pois se houver uma chance, mesmo que mínima, morreria tentando encontrar este jardim.

E de súbito percebo que a certeza da existência da luz começa pela percepção da existência da treva, que nunca seria tal sem a existência da luz.

Ó Luz, mostra-te, revela-te, ilumina meus caminhos, retira o mofo de minhas vestes, seca a lama dos meus pés, me deixe sair da caverna, me deixe ao menos saber da sua existência, pois somente a sua idéia já me ilumina por dentro e me faz crer que vale a pena buscar por Ti.

3 comentários:

  1. O seu desabafo é o desabafo de muitos, inclusive o meu... Vivemos em um mundo onde o correto a muito vem sendo questionado, posto em xeque por aqueles que não querem ver a luz!
    Parabéns pelo blog...
    Chris

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  2. Já somos três com este desabafo em comum. Aliás, eis um blog adorável, meu caro. Uma pena notar que não o atualizas mais...

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  3. Caro Stranger, muito obrigado pelo incentivo. Estou me preparando para voltar a postar alguma coisa. Bom saber que alguém se interessa, não estou sozinho, afinal.

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